sexta-feira, 21 de agosto de 2020

NOTA DE LEIGOS E LEIGAS DA ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE

 "E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado". Marcos 2:27 

                                              

Em 27 de julho de 2020, por ocasião da assinatura da CARTA ABERTA AO POVO DE DEUS, ao lado de mais 151 bispos que, ouvindo os clamores do povo brasileiro, saiu em sua defesa, indo de encontro aos desmandos que estão levando o país a um aumento inaceitável da injustiça social, com o número de vidas perdidas para a Covid19 que chega aos 112 mil, apoiamos Dom Fernando Saburido, quando ele era vítima de agressões verbais por ter assinado a carta profética. 

Agora, precisamos também colocar nossa posição sobre os acontecimentos do último domingo (16.08.2020) com uma criança de 10 anos.

 Diante da falta de acolhimento e compaixão com a criança, abusada sexualmente por quase metade de sua vida, por quem deveria lhe garantir segurança – o próprio tio –; diante da colocação da interrupção de uma gravidez de risco como um crime mais grave do que o estupro que a levou a esta situação; diante dos atos de hostilidade, violência e condenação da criança, dos familiares e profissionais de saúde, por parte de religiosos católicos e protestantes, padres, pastores, leigos, leigas e políticos, em frente ao hospital em que se encontrava internada a criança, sob o pretexto de defesa da vida; e ainda, diante do autoritarismo clerical que se instalou em algumas paróquias, com a exclusão arbitrária dos fiéis que apoiaram a garotinha, queremos registrar aqui a nossa indignação e a nossa tristeza.

 Dessa vez, não podemos, pelas nossas próprias consciências, sermos parte dos que condenam pobres crianças, vítimas da violência sexual que recorrem, excepcionalmente, ao aborto para preservar a própria vida – já que se trata de gravidez de alto risco – e como forma de esperança de resgatar a infância roubada, com a dignidade que toda criança deve ter. Assim registramos o nosso apoio a todas as crianças vítimas da sociedade e à justiça que ampara o direito à preservação de suas vidas e de sua infância. Continuamos caminhando com a Arquidiocese de Olinda e Recife, da qual fazemos parte como povo de Deus de sua jurisdição, mas, acima de tudo, seguimos firmes em nossa caminhada de defesa da vida em sua plenitude. Sempre que houver a defesa da justiça e onde a ação da Igreja colocar em primeiro lugar a compaixão e a misericórdia acima da legalidade, como nos deu o exemplo o próprio Jesus Cristo, nós estaremos presentes.

 CEBI – Centro de Estudos Bíblicos - Pernambuco 

Grupo Encontro da Partilha 

Grupo Fé e Política Dom Helder Camara 

Grupo de Leigos Católicos Igreja Nova Juventude Dom Helder Camara 

Movimento dos Trabalhadores Cristãos 

Pastoral da Saúde da AOR 

Pastoral Ambiental da AOR

 RCB –  Renovação Cristã do Brasil- Recife

  Rede de Espiritualidade e Ação Humanista

domingo, 26 de julho de 2020

REFLEXÃO DA CLASSE TRABALHADORA

https://youtu.be/0oIkX3c-zXQ
Em nossa *"Reflexão da Classe Trabalhadora"* Reginaldo Veloso nos propõe nos encontrarmos em rodas de conversa para compartilhar a realidade atual, os nossos desafios, fazer a leitura dos acontecimentos e das realidades a luz do Evangelho usando o método Ver, Julgar e Agir

Hoje, Reginaldo nos faz uma pergunta tão provocativa quanto desconcertante: somos gente que descobriu o tesouro? A peróla preciosa?

Reginaldo Veloso é presbítero leigo das CEBs e membro do corpo de assistentes do Movimento de Trabalhadores Cristãos NE II e Consultor do Movimento de Adolescentes e Crianças

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sábado, 25 de julho de 2020

O TRABALHO TEM FUTURO?





Hesitei em intitular este artigo. Primeiro, acudiu-me a ideia de encimar o texto com o título O Futuro do Trabalho. Rapidamente meu inconsciente suscitou uma advertência: por acaso o senhor tem certezas sobre o trabalho do futuro? Reconheci que o tema está inçado de incertezas.
Por isso, ouso invocar algumas ideias que desenvolvi com Gabriel Galípolo no livro A Escassez na Abundância Capitalista. O título do livro é paradoxal, assim como o paradoxo da produtividade apontado pelo relatório Compendium of Productivity Indicators 2018, da OCDE: “A despeito da retomada do crescimento na maioria dos países da OCDE, o maior peso de empregos de baixa produtividade reduziu os salários reais na economia como um todo”.
As legiões do progresso tecnológico deixam uma procissão de desgraças
O paradoxo revela que a aceleração do progresso tecnológico deslocou um contingente significativo de trabalhadores para atividades de baixa qualificação, o que deprime a produtividade e, também, a capacidade de consumo dos trabalhadores submetidos ao emprego precário.
Em seu rastro de vitórias, as legiões do progresso tecnológico deixam uma procissão de desgraças: além do desemprego, promovem a crescente insegurança e precariedade das novas formas de ocupação, a queda dos salários reais, a exclusão social.
Em Phenomenology of The End, o filósofo Franco Bifo Berardi desvenda essas transformações: “O capital deixou de alugar a força de trabalho das pessoas, mas compra ‘pacotes de tempo’, separados de seus proprietários ocasionais e intercambiáveis. O tempo despersonalizado tornou-se o agente real do processo de valorização e o tempo despersonalizado não tem direitos nem demandas. Apenas deve estar disponível ou indisponível, mas essa alternativa é meramente teórica porque o corpo físico, a despeito de desconsiderado juridicamente, ainda tem de se alimentar e pagar aluguel”.
À sua maneira, Bifo Berardi aponta para uma transformação crucial nas relações de trabalho no capitalismo contemporâneo. O progresso tecnológico da inteligência artificial, da internet das coisas e da robótica promove a dissolução das relações de assalariamento, o dito “emprego formal” que sustentou essas relações ao longo dos séculos de evolução da assim chamada economia de mercado.
Isso não significa, porém, que os trabalhadores ganhem mais independência e autonomia, tempo livre e outras delícias embutidas no rol de possibilidades desse sistema paradoxal. Muito ao contrário, acentuam-se as dependências das grandes estruturas monopolistas que surgem das transformações tecnológicas e organizacionais. São os grilhões da liberdade.
O fenômeno do surgimento e multiplicação das chamadas plataformas digitais invade o espaço ocupado pelo comércio, pela finança, pelos serviços, pela publicidade e pela produção. As empresas de plataforma têm um papel cada vez mais importante nas economias contemporâneas. Além dos gigantes numéricos, como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, as plataformas ocupam outros setores como finança, hotelaria, transportes, comercialização e distribuição de mercadorias, entrega de comida em domicílio.
Outrora apoiado em edificações distribuídas pelos espaços físicos nas cidades e arredores, o comércio – atacado e varejo – baseado no contato pessoal entre funcionários vendedores e clientes vem sendo substituído pelo e-commerce, que coloca os clientes em contato direto com as mercadorias. Estão em risco as cadeias de lojas distribuídas pelo espaço urbano, os shopping centers, restaurantes e casas de entretenimento.
Os bancos e as demais instituições financeiras reduzem as agências e os serviços prestados pessoalmente por gerentes e funcionários. Os serviços bancários são terceirizados para agentes autônomos, sem relações de trabalho formais com as plataformas que funcionam como um centro de controle das atividades. Ao contrário do que sugerem as versões disseminadas pelo senso comum, essas plataformas facilitam a concentração bancária. São transformadas em braços mercantis das grandes instituições financeiras. As chamadas fintechs, apresentadas como um avanço para a maior competitividade, transformam-se, na verdade, em operadoras das grandes instituições bancárias e financeiras.
Os trabalhadores autônomos, empreendedores de si mesmos, assumem os riscos da atividade – investimento, clientela – mas estão submetidos ao controle da plataforma na fixação de preços e repartição dos resultados.
Essa organização do trabalho foi predominante nos primórdios do capitalismo manufatureiro da era mercantilista, sob a forma do putting-out system. Os comerciantes forneciam a matéria-prima para os artesãos “autônomos” que estavam obrigados a entregar o produto manufaturado em determinado período. O salário por hora de Paulo Guedes é uma tentativa de restaurar as relações de trabalho do mercantilismo.
O capitalismo das plataformas transforma a possibilidade do tempo livre na ampliação das horas trabalhadas, na intensificação do trabalho, na precarização e empobrecimento do óleo queimado que sobrevive na bolha cada vez mais inflada dos trabalhadores em tempo parcial. 

Fwd: [pastoral-operaria-sao-paulo-militantes] O trabalho tem futuro.



quarta-feira, 8 de abril de 2020

                                                               
                                                              O APAGÃO LITÚRGICO
Quando uns sinais se apagam, para que outros sinais despontem!

“A noite é bela, porque somente durante a noite, é que podemos enxergar as estrelas” Card. Suenens

Uma Semana Santa diferente. Uma oportunidade inédita de aprendizado. A graça do momento! Porque, para quem tem a felicidade de ter “olhos de ver” (cf Lc 10,23), “tudo é graça!”. 
De fato, o povo de cultura cristã, especialmente, a Igreja Católica, ao longo de séculos, vem desenvolvendo uma prática religiosa centrada nos Sinais Sacramentais, apostando tudo nas celebrações dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Nessas atividades celebrativas,  esgota-se a maior parte dos recursos e esforços humanos e pastorais, o tempo maior de ação e dedicação dos presbíteros. É o que a crítica teológica denomina de “sacramentalismo”.
Alertados e instados pelas autoridades sanitárias de todos os níveis e em todos os recantos do Planeta, as Igrejas, as autoridades eclesiásticas, com lamentáveis e temerárias exceções, quase que consensualmente, orientam seus fiéis a ficarem em casa, porque, no momento, a barreira mais eficaz à disseminação do vírus é o distanciamento ou isolamento social. Todos os grandiosos eventos religiosos da Semana Santa, estão sendo cancelados, ou reduzidos a celebrações com a presença de um número mínimo de pessoas, transmitidos pela mídia convencional ou pelas redes sociais. Do Vaticano à mais pequenina capela, nos rincões mais remotos, é assim que se vem procedendo, desde o Domingo de Ramos. É um verdadeiro “apagão litúrgico”.
Essa percepção me ocorre, justamente, quando me ponho a refletir sobre a mensagem desta Quinta-Feira Santa. É no mínimo curioso que o quarto Evangelho, escrito por João, ao narrar a Última Ceia, no clássico cap. 13, descreva, com detalhes a cena do Lava-Pés, e omita o que é destaque nos três Evangelhos sinóticos, repetindo o que escrevera Paulo no cap. 11 da sua primeira Carta à Comunidade de Corinto: a partilha do pão e do vinho, em sua memória. Ambas as leituras são proclamadas na celebração desta noite.
Segundo João, depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus, conclui: “Pois bem, se eu lavei os pés de vocês, eu que sou o Senhor e o Mestre, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam do modo como eu fiz (...). Se vocês entenderem isso, serão felizes se o praticardes” (Jo 13,14-15.17).
De olho nas palavras de Jesus reportadas por João, vamos ler, como que, em paralelo, quanto relata Paulo: “De fato, eu mesmo recebi do Senhor aquilo lhes transmiti. A saber: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus pegou o pão, e dando graças o partiu e disse: ‘Isto é meu corpo, que é para vocês. Façam isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois de cear, pegou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue,  façam isto em memória de mim’” (1Co 11,23-25).
O mesmo Jesus que, na Ceia narrada por João, lava os pés dos discípulos, aparece em Paulo e nos três primeiros Evangelhos, tomando o pão eo vinho, entregando-lhes, como alimento, seu corpo e seu sangue... O mesmo Jesus que em Paulo e nos sinóticos sentencia “façam isto em memória de mim”, é Aquele que, no Evangelho de João, ordena “vocês também devem lavar os pés uns dos outros”; e acrescenta como “bem-aventurança”: “Se vocês entenderem isso, serão felizes se o praticarem”.
Não é difícil imaginar que João, tendo escrito seu Evangelho depois de todos os demais, tenha querido alertar as Comunidades cristãs para o essencial, talvez já não tão claramente percebido, como se dissesse: “Queridos e queridas, não adianta comer o pão e beber o cálice da Ceia do Senhor, se vocês não lavam os pés uns dos outros... Se vocês não cuidam uns dos outros... Se vocês não fazem o que sugeri na parábola do Samaritano... Se vocês não estão dando a vida uns pelos outros como eu dei por vocês (cf Jo 15,12-14). Não adianta comer a Ceia em minha memória, se vocês não praticam o lava-pés no dia a dia.
Será, então, que a oportunidade, a graça que Deus nos está concedendo neste momento de “apagão litúrgico”, é justamente essa: “Aproveitem esse momento de não poder celebrar os Sacramentos, a Eucaristia, para perceber tudo quanto está acontecendo no meio de vocês (queira Deus!) e ao redor de vocês!?... Tanta gente se desdobrando para fazer sua parte, colocando-se a serviço de quem mais precisa, nesta hora de calamidade pública: arrecadação de cestas básicas, preparo e oferta de refeições ao povo da rua, confecção e distribuição de máscaras; Sindicatos de Trabalhadores/as, Movimentos Populares, Parlamentares, Governadores, Prefeitos e Juízes, e o próprio Ministro da Saúde, unidos na garantia de direitos da Classe Trabalhadora e de medidas abrangentes e eficazes de proteção para toda a população, especialmente os mais vulneráveis; e, sobretudo, Agentes de Saúde, dedicando-se no limite de suas forças, alguns, algumas literalmente dando suas vidas pela salvação do seu povo. Que beleza ver os agentes de saúde, médicos/as, enfermeiros/as e demais servidores/as homenageados/as em todo o Brasil e pelo mundo afora. Que emocionante vê-los reverenciados na China, como “Mártires do Povo”. Eis aí o Lava-Pés: o mandamento de Jesus sendo posto em prática! Eis aí a “presença real de Jesus” na vida, no dia a dia do povo! E somente essa “presença real” de Jesus na vida do povo, é que consubstancia e autêntica a “presença real” Jesus na celebração eucarística. 
Parece que o aprendizado da hora é este: Deus nos está convidando a fazer uma pausa altamente pedagógica. Aos que durante tanto tempo fomos tão assíduos na celebração da Santa Missa... aos que estivemos durante tanto tempo encantados, adorando a Jesus na hóstia consagrada... aos que até agora só o enxergamos nos “Sinais Sacramentais”, ele nos convida a abrir os olhos para os “Sinais dos Tempos”, todos esses gestos de solidariedade que se multiplicam e ampliam, perto de nós e pelo mundo todo, “pois tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, estava doente e me visitaram, estava na cadeia e vieram me ver” (Mt 25,35-36).
Oxalá a Humanidade, países e mundo globalizado, indivíduos e sociedade, saiamos todos/as mais humanizados/as, capazes de construir um novo Sistema, que mantenha o  Planeta saudável e sustentável; as Economias, solidárias; as Políticas, clara e decididamente, a serviço do Bem Comum, do Bem Viver! 
E as Igrejas e Religiões santifiquem e honrem  o nome de Deus, Pai-e-Mãe de todos e todas nós,    colocando-se a serviço da “Vinda do Reino do seu Reino”, na medida em que se consagram à realização a sua santa vontade “assim na terra como no céu”, isto é, servir à  causa da Vida em plenitude! (cf Jo 10,10). Neste sentido, nós católicos, nesta Quinta-Feira Santa, poderíamos edificar-nos com as palavras de uma santa muito querida, que no final de sua breve existência, escrevia: “Sem dúvida, é uma grande graça receber os sacramentos; mas, quando o Bom Deus não o permite, está bem do mesmo jeito. Tudo é graça”.
Reginaldo Veloso, presbítero leigo das CEBs, 
assistente do Movimento de Trabalhadores Cristãos - MTC