domingo, 30 de outubro de 2016

PARA UMA ONU DOS POVOS


Nessa segunda-feira, 24 de outubro a ONU completou 71 anos, desde que a Carta de sua fundação foi aprovada em 1945. Desde então, a utopia da unidade entre todos os povos sofreu muitos desgastes. A ONU continua controlada pelas grandes potências. É urgente uma profunda reforma nos estatutos da ONU e dos organismos internacionais. Precisamos avançar para a união de uma sociedade planetária que respeite a autonomia de cada país, mas garanta que todos os seres humanos possam sentir a Terra como sua casa comum.
Desde que a ONU foi fundada, os governos-membros foram aprovando vários estatutos e convenções que complementam a Carta da ONU, a Declaração de Direitos Humanos e as convenções internacionais. No entanto, todos os dias, as grandes potências mostram que fazem o que querem. Todos os dias, as convenções internacionais são desrespeitadas e as leis burladas. Isso é praticado principalmente pelas grandes potências das quais a ONU depende. Os impérios continuam a dominar e explorar sem que haja um organismo internacional que tenha força de impedir a invasão de outros países e o massacre de populações inteiras, na Ásia e na África, apenas para garantir aos Estados Unidos a exploração de reservas petrolíferas ou outras riquezas do subsolo. Apesar de todas as convenções assinadas sobre o direito dos migrantes e refugiados, diariamente, milhares de famílias são confinadas em novos campos de concentração construídos pelos países europeus ou devolvidos ao mar para morrerem.  
Nas últimas décadas, os países do Sul tentaram se organizar entre si para fazer valer os seus direitos. Na África, a Organização dos Estados Africanos tentou se tornar um espaço de autonomia para os países africanos. Depois que os Estados Unidos mataram Kadafi e dominaram a Líbia, tudo voltou atrás. Na América Latina, Hugo Chávez, Evo Morales e outros fundaram a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), a União das Nações Sul-americanas (UNASUL). Os diversos golpes militares ou parlamentares, patrocinados pelo governo norte-americano na região, fazem de tudo para esvaziar esse projeto. Entre 2014 e 2015, mais de seis bilhões de dólares foram dados à Sociedade Interamericana de Imprensa que reúne 88 grandes meios de comunicação na América Latina para diariamente mostrar que a Bolívia vai mal, o governo da Venezuela não presta e o Equador é um caos. As televisões distorcem as notícias, a maioria acredita e as intervenções do império se tornam possíveis. 
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou um estudo que mostra: o topo da pirâmide social brasileira é composto por cerca de 71 mil super-ricos. Eles representam 0, 05 da população adulta do Brasil, o que representa um escândalo de desigualdade social de dimensões planetárias". Nessas eleições municipais, vários desses milionários foram eleitos. No atual governo federal, vários deles são direta ou indiretamente responsáveis pela situação política e pela crise que vivemos. Enquanto isso, a imensa população brasileira vota nos seus opressores. Nessas eleições municipais, a população mais pobre votou como uma barata tonta que escolhesse se proteger embaixo do chinelo que vai esmagá-la. Nossos telejornais conseguem milagres. Mulheres pobres pregam contra a igualdade entre o homem e a mulher. Negros de periferia falam contra as cotas raciais. Até o povo pobre da Colômbia, esmagado por uma guerra de mais de 50 anos e que produziu quase oito milhões de mortos, vota contra a Paz. 
Nesse contexto, movimentos sociais, organizações de base e povos tradicionais se articulam e se unem por uma pauta comum. A partir das bases, ressurge o projeto de uma organização internacional que não seja apenas de governos e sim representativo da sociedade civil. Seu objetivo é dar voz e vez às pessoas comuns e fazer ressoar aos governos que há uma insatisfação geral com o sistema social e político atual. Como afirma o Fórum Social Mundial: "Uma outra forma de organizar o mundo é necessária. Juntos podemos torná-la possível". 
Todas as religiões têm como missão tornar a humanidade melhor e o mundo mais amoroso. Se olhamos a realidade internacional e o Brasil, podemos pensar que as religiões fracassaram. O que mais se vê hoje é uma onda de ódio, intolerância e incapacidade de conviver com o diferente. Infelizmente, os próprios religiosos das mais diversas tradições nem sempre têm dado um exemplo diferente das pessoas sem religião. No entanto, de um modo ou de outro, todos os caminhos espirituais propõem conversão e transformação interior. Através do diálogo e da colaboração, elas podem ajudar a humanidade a construir uma sociedade planetária unida. Ao fazer isso, darão um testemunho que irá além de todas as suas pregações e ensinamentos. Revelarão que "Deus é amor e só quem vive o amor vive em Deus e Deus vive com essa pessoa" (Cf. 1 Jo 4, 16).  

Publié par Marcelo Barros 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A Ceia do Senhor e o jantar do “Presidente”, a votação da PEC 241 e o “ex opere operato”
Eu, também, não tenho provas, mas tenho plena convicção em minha certeza de que boa parte daqueles e daquelas que atenderam ao convite do “Presidente” para jantar com ele nesta noite de domingo, 09 de outubro de 2016, primeiro,  religiosamente, na noite do sábado ou neste mesmo domingo pela manhã, tenha participado da Missa, como, entre católicos e católicas, costumamos apelidar a celebração da Ceia do Senhor.
A teologia escolástica tradicional nos ensinou que, feitos os gestos e pronunciadas as palavras, “ex opere operato”, isto é, pelo fato mesmo do que foi feito, o que aconteceu na véspera da morte de Jesus se repete, aqui e agora, para e com as pessoas que desse ritual participam. Imagino, inclusive, que “nobres” deputados e “deputadas”, talvez até ministros, tenham comungado.
E os que, supostamente, comungaram com Jesus em sua entrega, sua doação de vida pela humanidade, vieram, na noite deste domingo, sentar-se à mesa com o “Presidente”, não só para comer com ele uma lauta refeição, mas para comungar com ele na sua proposta mais questionável, qual foi a PEC 241, a ser votada no dia seguinte, esta segunda-feira, 10 de outubro de 2016.
Pensando apenas, então, nas deputadas e deputados católicos, da base aliada do governo, quem terá levado a melhor, Jesus Cristo ou Michel Temer? ...
E eu poderia referir-me aos que votaram a favor da criminosa PEC 241 com as palavras com que o Papa Francisco, certa feita, se referiu aos homossexuais discriminados e condenados pela sociedade preconceituosa que somos: “Quem sou eu para julgá-los” ...
Mas eu prefiro lembrar o que Jesus disse no Sermão da Montanha: “Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas. Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão” (Mt 7,15-20).
Talvez, hoje em dia, se precisasse chegar a uma nova percepção, a uma mais clara e correta consciência da natureza e da importância dos Sacramentos. Está provado por este fato, escandaloso e recente, e por tudo o que se observa no desempenho dos cristãos e cristãs deste país, mormente de nós católicos e católicas que há mais de 500 anos nos confundimos com a história mesma desta nação, que não basta nos contentarmos com essa visão e esta prática sacramental, que tem mais de magia e enganação, que de “adoração em espírito e em verdade” (cf. Jo 4,21-24).
Para efeito de validade, de ser “honesto com Deus”, pode-se separar o “opus operatum”, isto é, o rito, do “opus operantis”, isto é, do desempenho e da prática de vida daqueles e daquelas que operam o rito? ... Não estaremos correndo o risco de, mais uma vez, darmos razão a Marx, quando, ao avaliar a vida, o desempenho, a prática dos religiosos do seu tempo, com toda a razão disse que “religião é ópio do povo”, droga que aquieta, igualmente, a consciência dos oprimidos em sua miséria, e a dos opressores em seus crimes hediondos? ...
Se a celebração da Missa não é feita por uma Comunidade de Discípulos/as e Missionários/as, que, por isso mesmo, se esforçam por viver um radical compromisso com a Vida do seu povo, exercendo exemplarmente a sua cidadania e participando destemida e generosamente das lutas sociais, por um mundo de justiça e de paz, onde todos e todas possam viver com dignidade e ser felizes “assim na terra como no céu”, se não for assim, repito, estará esta Missa “santificando” o nome do Pai e manifestando a “salvação”, ou estará sendo uma tremenda blasfêmia para com Deus e um mortal narcótico para a nossa gente?...

Reginaldo Veloso, presbítero das CEBs – Assistente Regional do MTC-NE 2.