A Ceia do Senhor e o
jantar do “Presidente”, a votação da PEC 241 e o “ex opere operato”
Eu, também, não tenho provas, mas tenho plena convicção em
minha certeza de que boa parte daqueles e daquelas que atenderam ao convite do
“Presidente” para jantar com ele nesta noite de domingo, 09 de outubro de 2016,
primeiro, religiosamente, na noite do
sábado ou neste mesmo domingo pela manhã, tenha participado da Missa, como,
entre católicos e católicas, costumamos apelidar a celebração da Ceia do
Senhor.
A teologia escolástica tradicional nos ensinou que, feitos os
gestos e pronunciadas as palavras, “ex opere operato”, isto é, pelo fato mesmo
do que foi feito, o que aconteceu na véspera da morte de Jesus se repete, aqui
e agora, para e com as pessoas que desse ritual participam. Imagino, inclusive,
que “nobres” deputados e “deputadas”, talvez até ministros, tenham comungado.
E os que, supostamente, comungaram com Jesus em sua entrega,
sua doação de vida pela humanidade, vieram, na noite deste domingo, sentar-se à
mesa com o “Presidente”, não só para comer com ele uma lauta refeição, mas para
comungar com ele na sua proposta mais questionável, qual foi a PEC 241, a ser
votada no dia seguinte, esta segunda-feira, 10 de outubro de 2016.
Pensando apenas, então, nas deputadas e deputados católicos,
da base aliada do governo, quem terá levado a melhor, Jesus Cristo ou Michel Temer?
...
E eu poderia referir-me aos que votaram a favor da criminosa
PEC 241 com as palavras com que o Papa Francisco, certa feita, se referiu aos
homossexuais discriminados e condenados pela sociedade preconceituosa que
somos: “Quem sou eu para julgá-los” ...
Mas eu prefiro lembrar o que Jesus disse no Sermão da
Montanha: “Cuidado com os falsos
profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são
lobos ferozes. Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas
de espinheiros ou figos de urtigas. Assim, toda árvore boa produz bons frutos,
e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e
uma árvore má não pode dar bons frutos. Pelos frutos deles é que vocês os
conhecerão” (Mt 7,15-20).
Talvez, hoje em dia, se precisasse chegar a uma nova percepção,
a uma mais clara e correta consciência da natureza e da importância dos
Sacramentos. Está provado por este fato, escandaloso e recente, e por tudo o
que se observa no desempenho dos cristãos e cristãs deste país, mormente de nós
católicos e católicas que há mais de 500 anos nos confundimos com a história
mesma desta nação, que não basta nos contentarmos com essa visão e esta prática
sacramental, que tem mais de magia e enganação, que de “adoração em espírito e em verdade” (cf. Jo 4,21-24).
Para efeito de validade, de ser “honesto com Deus”, pode-se
separar o “opus operatum”, isto é, o rito, do “opus operantis”, isto é, do
desempenho e da prática de vida daqueles e daquelas que operam o rito? ... Não
estaremos correndo o risco de, mais uma vez, darmos razão a Marx, quando, ao
avaliar a vida, o desempenho, a prática dos religiosos do seu tempo, com toda a
razão disse que “religião é ópio do povo”, droga que aquieta, igualmente, a
consciência dos oprimidos em sua miséria, e a dos opressores em seus crimes hediondos?
...
Se a celebração da Missa não é feita por uma
Comunidade de Discípulos/as e Missionários/as, que, por isso mesmo, se esforçam
por viver um radical compromisso com a Vida do seu povo, exercendo
exemplarmente a sua cidadania e participando destemida e generosamente das
lutas sociais, por um mundo de justiça e de paz, onde todos e todas possam
viver com dignidade e ser felizes “assim
na terra como no céu”, se não for assim, repito, estará esta Missa “santificando”
o nome do Pai e manifestando a “salvação”, ou estará sendo uma tremenda
blasfêmia para com Deus e um mortal narcótico para a nossa gente?...
Reginaldo Veloso, presbítero das CEBs
– Assistente Regional do MTC-NE 2.