HISTORIA



Historia do MTC


    1957             

              O MTC, antiga ACO (Ação Católica Operária) teve sua  origem a partir do I Congresso Mundial da JOC (Juventude Operária Católica), realizado em  agosto de 1957 na cidade de Roma onde participaram 35 mil jovens de todos os continentes e de lá retornaram aos seus países com um compromisso de evangelização transformadora ,através de um roteiro de ação sintetizado no Manifesto Internacional, que era um grito de denúncias das dores e humilhações sofridas pela classe operária e um clamor por transformações radicais, principalmente nas regiões sub-desenvolvidas do mundo, expostas à exploração do Capitalismo Internacional.

1958,1959,1960. 
               No Brasil com o governo de JK (Juscelino Kubitscheck), o País crescia e se desenvolvia economicamente, mas o capitalismo tem em si o germe da contradição. E eram muitas e fortes as contradições:
                   1-O desenvolvimentismo de JK excluía a agricultura, onde os latifúndios geravam misérias e sobra de braços trabalhadores.  
               2-Os investimentos eram financiados pelo capital estrangeiro e pela a inflação,tornando a economia brasileira fortemente dependente.
                     3-As fábricas que produziam a riqueza aceleravam o processo de urbanização, atraindo para as cidades as multidões dos sem terra e sem trabalho; com eles se multiplicavam as favelas e alongavam-se as periferias miseráveis.  
                  4-A contradição maior: A riqueza produzida era resultado da exploração do trabalho, engordava os capitalistas mas mudava muito pouco a vida dos trabalhadores, isto se prova nos números escandalosos do período: De 1956 a 1960 (período JK), a produtividade industrial cresceu 37%, o lucro das industrias 76% e os salários dos trabalhadores apenas 15%.
            As consequências: No seio da industrialização cresceu e ganhou força O Movimento Operário. A era JK produzio um nível de consciência e organização na classe operária.Manifestação disso; em 1957 surge a PUA (Pacto de Unidade e Ação), 1960 o Comando Geral do Trabalhadores (CGT).          
              Ao mesmo tempo, no campo, surgiam as Ligas camponesas e osSindicatos rurais. E nos meios urbanos, ganhava corpo um movimento popular forte, em forma de associações de moradores,
 entidades de favelados, grupos de serviços etc.
              Era um caldeirão que começava a ferver, e nele estavam os jocistas militantes. Era uma militância presente em quase todas as capitais e nos principais pólos industriais do país.
              Mas havia uma angústia a tolher as perspectiva da militância jocista a falta de um movimento adulto, sem os limites da vinculação paroquial,porém forte e autêntico, na linha do testemunho evangélico.


continuando a história

                1960
                 Não se tratava, entre tanto, de um fenômeno puramente brasileiro, a nossa realidade era parcela da realidade latino-americana. As mesmas angustias e buscas, levavam os ex- jocistas dos países irmãos a um comportamento semelhante a dos ex-jocistas do Brasil. E foi a partir dessa inquietação que se realizou em Córdoba,Argentina de 9 a 13 de fevereiro de 1960, o I Encontro Latino-americano de antigos jocistas; foi um encontro definitivo para a criação de um novo movimento, pois respondeu em grande parte às dúvidas e interrogações existentes, apontando novos rumos para um movimento que se caracteriza com de cristãos adultos, responsáveis,engajados no movimento sindical e político.
                1961
                 Este ano foi de definições no plano das idéias e no plano prático. Em Santiago do Chile de 12 a 19 de março, reunia-se a comissão responsável pelos movimentos de ACO na América latina, eleita no encontro de Córdoba. foram firmadas conclusões sobre a linha a ser adotada pelo movimento, e os países envolvidos assumiram o compromisso de pô-las em prática.
                A reunião de Santiago fez acelerar os trabalhos de formação da ACO no Brasil. A ideia do novo movimento crescia pelos Estados; os grupos de militantes articulavam-se e trocavam experiências entre si; a prática avançava, conjugando engajamento com revisão de vida ( RV ).
               Havia experiências equivalentes em quase todas as outras cidades onde a ACO começava a existir.
               Dessa maneira, o movimento brotava da ação concreta dos militantes e não da elaboração de  documentos.  
               Nos dias 29 e 30 de abril, essas experiências das bases foram discutidas numa reunião de avaliação, com os responsáveis pelo movimento de São Paulo e Rio de Janeiro. A época era de dificuldades e Minas não pode comparecer. Na avaliação feita verificou-se que o movimento caminhava com firmeza em sete cidades: Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Belém, São Luiz e Maceió; e que começava em  Niterói,João Pessoa, Recife,Natal,Santo André, Sorocaba, Botucatu, Rio Preto e Aracaju.
               Na reunião tomou-se a decisão de convocar dois encontros com temário comum, um no Maranhão outro em São Paulo, para tratar da constituição definitiva da Ação Católica Operária como organização nacional.
           


O ano da Consolidação

           1962
            Como fora decidido o primeiro encontro aconteceu nos dias 8 a 15 de julho em São Luiz do Maranhão; presentes, 50 representantes das seguintes cidades: Macapá,  Belém, São Luiz, Bacabal,Parnaíba, Fortaleza,Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Rio e São Paulo. Nesse encontro foram decididas muitas questões.
             A questão da relação entre a ACO e a igreja foi bastante discutida e se definiu a ACO como representante da Igreja na classe operária e, paralelamente, representante da classe operária na Igreja.
             Definiu-se o primeiro modelo de organização, tendo como critério básico a simplicidade e a flexibilidade para soluções adequadas a cada realidade regional e local e ficou estabelecido que a  ACO, seria formada por: Equipes de bairro, com 10 a 12 militantes, diversamente engajados;        
                             Equipes de base no centro, agrupando militantes engajados sem a possibilidade de integrarem uma equipe de bairro;
                            E equipes por categoria profissional, exemplo: Equipes de domésticas.
              O encontro do Maranhão incluiu no modelo de organização dois níveis de coordenação:
                            O Diocesano e o Nacional. E elegeu a primeira equipe nacional, assim constituída: Ananias Araújo e Amadeu Araújo ( norte ); João da Cruz Fragoso e Maria Lorena de Araújo (nordeste ); José Gomes de Morais Neto e Maria Aparecida Nassif ( São Paulo ); José Márcio Silva Santos e Ana de Matos ( Minas Gerais ); Odete Soares e José Maria Galdeano - ¨Juca¨( Rio de Janeiro ).
              O encontro de São Paulo, com a participação de 130 militantes do Centro- Sul, realizou-se nos dias 1 a 4 de novembro. havia gente do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Guanabara, e Estado do Rio. E uma delegação do norte e nordeste, com representantes de João Pessoa, Recife e Belém. O encontro ratificou e aprofundou as principais posições aprovadas no encontro do Maranhão,Por exemplo:
Foram reclamadas reformas radicais e imediatas das estruturas,¨segundo os princípios da encíclica Mater et Magistra; e rejeitada qualquer ideia de uma ACO serviço ou com características assistencialista.
Rejeitou-se, também, a hipótese de um movimento ¨representativo¨, isto é, uma ACO encaminhadora de revindicações em seu próprio nome, passando por cima das organizações operária e populares existentes. Outra definição importante: o movimento não atuaria como¨bloco fechado¨ , significa que,¨não seria admitida a organização de militantes em torno de ações comuns, salvo em situações muito especiais¨.                          
            Enfim, um movimento definido, com propostas, rumos e opções.
            Em São Luiz do Maranhão, 50 militantes, uma semana de reunião,entre os dias 8 a 15 de julho de 1962; em São Paulo,130 militantes,quatro dias  de reunião,de 1 a 4 de novembro de 1962. Decisão: FICA OFICIALMENTE FUNDADA, EM NÍVEL NACIONAL, A AÇÃO CATÓLICA OPERARIA.


1963,UM PERÍODO FÉRTIL DE EXPANSÃO E APROFUNDAMENTO

       
           1963
            Decidida a fundação da ACO em 1962, os militantes cortaram as últimas amarras que os prendiam ao saudosismo do passado jocista e começaram a construir realmente algo de novo, que respondesse às novas exigências de sua militância.
            No ano de 1963 a ACO crescera bastante,crescera não apenas na quantidades de equipes e militantes, mas, principalmente, no nível de consciência política, na seriedade dos engajamentos e na determinação de lutar por mudanças nas estruturas e nas pessoas. Lembra o padre Mário Prigol:

           ¨Os primeiros grupos de ACO no Rio e em São Paulo tinham a preocupação de aprofundar a fé dos militantes engajados nas atividades das favelas e dos sindicatos... Havia militantes que se  de dicavam à alfabetização de adultos através das escolas radiofônicas ou participavam de projetos de casas populares. Eles revisavam sistematicamente sua atividade, para aprofundar o sentido cristão e social da militância... A preocupação dos militantes em influir no movimento operário e popular não tinha um objetivo claro, politicamente. Alguns não iam além de meros ativistas.¨

           Mas foi fazendo reflexão crítica em cima de cada experiência que o movimento adquiriu maturidade e certezas, fazendo suas primeiras opções ideológicas. Tanto é assim que em 1963, pela atuação de seus militantesa ACO já se empenhava firmemente na campanha pelas reformas de base, somando-se aos demais movimentos populares.
            Em Pernambuco, em particular, e no Nordeste em geral, o ano de 1963 foi de definições e organização. De alguma forma, reproduzia-se em Pernambuco o mesmo processo dos outros Estados.
Na ACO pernambucana os militantes engajaram-se nas lutas sindicais, participaram de greves,disputavam lideranças com outros movimentos sociais, entraram em associações ou movimentos populares. De maneira mais forte e constante, deram dimensão a uma prática de pesquisa da realidade operária e denuncia das injustiças.
             Nas terras nordestinas, a partir da revisão de vida, a ACO sacudiu a poeira da religião tradicionalista, saiu do interior das paróquias e passou a seguir um Cristo vivo, ligado à realidade da vida operária.
              A essa militância  dinâmica correspondia um nível de organização que se aperfeiçoava a cada mês. A ACO havia feito um planejamento e o executava progressivamente, com avanços e uma atitude de crítica e auto-crítica. Uma avaliação feita revelou a existência e a atuação organizada de seis equipes no Recife, mais três, nas cidade de Escada; onde firma-se uma liderança nova , a de Francisco Caetano Santiago, militante do movimento;Paulista e Jaboatão.
              A ACO de Pernambuco empenhava-se em dá consistência ao movimento em nível regional. Assim, nos dias 7 e 8 de novembro de 1963 organizou o I Encontro dos Responsáveis da ACO/NE, com a participação de 24 militantes, representando as seguintes cidades:  São Luiz, Fortaleza, Natal, João Pessoa,Campina Grande, Recife, Paulista, Escada, Jaboatão, Maceió, e Fernão Velho. Nessa  ocasião, a avaliação feita mostrava que o movimento, na região, já possuía 15 equipes.
             Na História da ACO, o ano de 1963 foi, portanto, um período fértil de expansão e aprofundamento. E o mesmo acontecia em plano continental, pois foi também em 1963 que se realizou no Rio de Janeiro, o Encontro de Adultos do Mundo Operário do qual resultou a formação do MOAC- Movimento de Ação Católica Operária, o braço latino-americano do MMTC.
                                                            


A IGREJA E A ACO

               
                 A hierarquia da Igreja não tinha uma posição uniforme em relação à ACO que nascia no início da década de 60. Houve sempre uma certa suspeita sobre os movimentos de trabalhadores.
                 De modo geral - registram os depoimentos colhidos - nas dioceses onde a JOC era apoiada não houve problemas com ACO; mas, em sua maioria, os bispos e os párocos opuseram-se ao novo movimento.
                 Entre as exceções: O Cardial, D. Carlos Carmelo de Vasconcelos, os bispos: Dom Cândido Padim, Dom Antonio Batista Fragoso, e Dom José Lamartine, referência especial a Dom Helder Câmara.                              
                 Como secretário da CNBB, ele sempre apoio a ACO, sem qualquer tipo de intromissão.¨ Confiava em nós e não mexia nas questões sob nossa responsabilidade¨. Quando havia dificuldades maiores, o apoio se transformava em ajuda concreta. Esse mesmo comportamento de apoio e respeito seria mantido por D. Helder Câmara como arcebispo de Olinda e Recife, a partir de 1964.
                 O Concílio Vaticano II, que discutiu e valorizou  a função do leigo na Igreja, contribuiu para amenizar a desconfiança dos bispos brasileiros em relação a ACO. ¨Mas os bispos viam na Ação Católica um laicado que crescia sob a dependência da hierarquia. E isso a ACO nunca aceitou¨. 
                  O pouco apoio recebido de bispos e párocos foi largamente compensado pela dedicação de um pequeno grupo de assistentes religiosos, através dos quais a Igreja zelou pela formação dos seus militantes operários. Há risco de omissões, mas alguns nomes não podem deixar de ser citados, nessa equipe de padres pioneiros: Abib Andery (SP), Emile Dion (SP),Frei Rui (RS), Mário Prigol (Rio),Moisés (Recife), Roberto du Lattay (Sto. André) - e a eles se somaria o padre Romano Zufferey.
                  Personagem maior na história da ACO, padre Romano chegou ao Brasil em setembro de 1962, quando da fundação da ACO.
                  Veio para ser assistente liberado do movimento e fixou-se em Recife, no Nordeste brasileiro - e nordestino se tornaria, por opção e amor.
                  Ele jamais pleiteou espaços na História da ACO e da classe operária. Mas conquistou-os com sua ação,testemunho, ensinamentos e sua vida, dedicada por inteiro ao movimento e aos trabalhadores. exemplo disso citaremos uma frase roubada das anotações produzidas na intimidade de noites de reflexão e encontrada meses depois de sua ida:
                  ¨A policia me perguntou o que faria fora do Brasil, uma vez expulso. Respondi; - A Igreja é do mundo todo; a classe operária também. Ficarei com elas. ¨


1965 E anos seguintes

  

   1965

      O Congresso Nacional da ACO, o primeiro da história do movimento, aconteceu no Recife, de 24 a 31 de janeiro de 1965, conforme estava programado. Foi um momento importante na vida da ACO. Cem delegados de todas as regiões debruçaram-se na análise crítica da realidade brasileira. A SITUAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA ERA DRAMÁTICA. Tudo foi discutido, em cima de depoimentos vivos. E sobre essa realidade,traçou-se o caminho da militância para a transformação desse mundo: a integração e o engajamento no meio em que o militante vive e trabalha; e fazer da RV(revisão de vida) o instrumento de descoberta do mundo real, à luz da fé, e da definição das ações transformadoras  do mundo. 
     De todos os dramas que afligiam a Classe Operária, o maior era o desemprego.A ACO fez-se voz da Classe Operária, para denunciar o problema e pedir soluções.
     O boletim ¨Presença¨(maio de 1965) divulgou números e fatos de estarrecer:
_   No ABC paulista, 40% da população economicamente ativa encontra-se sem emprego.
_   No Rio de Janeiro, todas as categorias são igualmente atingidas.
_   Em Belo Horizonte há pelo menos 15 mil desempregados na indústria.
_   Em Pernambuco, o desemprego atinge o campo e a cidade. No total, os desempregados chegam a 120 mil.
     Em São Paulo, o desemprego adquiriu dimensões mais graves. A pretexto de combater a inflação, o governo investiu na recessão, fazendo do trabalhador a grande vítima do processo.
    A ACO de São Paulo resolveu aprofundar sua ação e lançou um manifesto propondo a todas as paróquias um ação coletiva de caráter emergencial. O manifesto propunha um plano para doações de alimentos, roupas e dinheiro, além de denunciar o desemprego.
     A ACO de Recife proclamam o sagrado direito ao trabalho.
     A nível nacional, através de sua equipe de coordenação, ACO elaborou e divulgou um relatório que dimensionava, para a opinião pública e para a Igreja, a gravidade do desemprego. Isso aconteceu em agosto de 1965.
     As denuncias da ACO levam vários bispos a fazerem pronunciamentos a favor dos trabalhadores, pedindo solidariedade e medidas governamentais.
    Esse clima de insegurança e medo deu aos militantes da ACO a oportunidade de testemunharem sua fé e sua fidelidade. O movimento cresceu em autenticidade. 
    O compromisso da ACO com a realidade operária a nível de base conduziu, naturalmente, para uma autonomia regional cada vez mais acentuada. Assim, no dia 7 de setembro de 1965, o encontro da Equipe Nacional resolveu descentralizar o movimento, criando quatro coordenações regionais: ACO/ Nordeste, com  sede em Recife; ACO/Rio, com sede no Rio de Janeiro; ACO/ São Paulo, com sede em São Paulo; e ACO/Sul, com sede em Porto Alegre.
     Ainda em 1965 é instalada a Regional de São Paulo, fruto dessa decisão.       

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