domingo, 15 de maio de 2016

Reflexão para a Solenidade de Pentecostes

PENTECOSTES - C: O Espírito, mandado pelo Pai, nos lembra tudo quanto Jesus disse
(João 14,16-16.23b-26)


Discernimento, eis a questão! É do que mais se precisa, num tempo de tanta complexidade e inertezas. Há quase 51 anos (08.12.1965), se encerrava um Concílio Ecumênico, cuja importância maior tinha sido, justamente, diante dos “sinais dos tempos”, discernir o que o Espírito estava dizendo às Igrejas... Durante algum tempo, as Igrejas se puseram à escuta e procuraram dar as respostas que o momento do mundo exigia. Na América Latina, particularmente Medellín/1968 e Puebla/1969, foram momentos expressivos de leitura da nossa realidade de “injustiça institucionalizada” e de respostas consequentes e ousadas aos desafios do Continente.
Mas não durou tanto tempo este fervor de mudança, de conversão, de busca sincera de resposta aos desafios da História, de volta às fontes e de resposta generosa aos apelos de Deus. Começando pelas mais altas cúpulas, de cima a baixo, como diz o povo, “se voltou à vaca fria”, à mesmice de um clericalismo imbecilizante, e de um devocionismo “festivo”, alienado, quando não, comercialmente manipulado.

Contudo, continua de pé a promessa: O Consolador, o Confortador, o Assistente que o Pai nos mandou permanecerá sempre conosco, e vai nos lembrando, de conjuntura em conjuntura, tudo quanto Jesus deixou dito para nós. O advento de FRANCISCO tem sido uma dessas irrupções espetaculares do Espírito, na História. De repente, qual suave e forte ventania, o Espírito passa desinstalando e sacodindo o mofo, e “acorda pra JESUS!” muita gente acomodada ou alienada. Mais uma vez, quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir pode regozijar-se com o cumprimento da profecia: “O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos lembrará tudo quanto vos tenho dito”. É importante darmo-nos conta, de que estamos vivendo um “tempo de graça”, de chamado à mudança, à renovação. Diante das mudanças que mundo trama e engendra, as Igrejas precisam colocar-se a serviço das mudanças que o Reino de Deus nos exigem com urgência, para que ele, o Reino, “venha” e possa realizar-se “assim na terra como no céu”!

A Campanha da Fraternidade deste ano de 2016 bem que nos tentou acordar para o engajamento no esforço comum dos Movimentos Sociais Populares, de contribuir para as mudanças que precisam ocorrer no cuidado com a CASA COMUM.

Desde o “Grito dos Excluídos” de dois anos atrás que,  de várias maneiras e por vários caminhos, os Movimentos Sociais Progressistas e Populares, e a própria CNBB nos convocam, por exemplo, à luta pela REFORMA POLÍTICA, pela convocação de uma ASSEMBLEIA CONSTITUINTE EXCLUSIVA E SOBERANA PARA A REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO, sem o quê, nenhuma transformação social de profundidade, amplitude e envergadura poderá prosperar nesse país de secular cultura do privilégio, da desigualdade e da corrupção.

Os fatos que vem ocorrendo em torno do impedimento da Presidenta da República, agora afastada do exercício do governo por seis meses, à espera do julgamento definitivo, nos coloca todos e todas que temos compromisso com a Classe Trabalhadora e com as Periferias empobrecidas, em estado de alerta máximo! Haveremos de permitir o retrocesso, a volta à política neoliberal que só interessa às elites entreguistas do nosso país e aos abutres de fora que estão o tempo todo de olho nas riquezas do povo que ainda não foram privatizadas?... O Espírito venha nos despertar do marasmo de um cristianismo estéril, que em nada corresponde ao que Jesus nos sugere quando nos convoca a sermos “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento na massa”, de modo que as “pessoas vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”! (Mt 5,16).


                                                                                 Reginaldo Veloso, Presbítero das CEBs
Recife, 12 de maio de 2016.